Iniciativa pra se comemorar, o Festival 3i encerrou sua primeira edição, no último fim de semana, dando fôlego a quem busca soluções para os múltiplos desafios que o jornalismo tem hoje para superar. No que cabe dentro do escopo deste projeto, o Negócio de Jornalista, a mesa Modelos de Negócio e Gestão foi bem didática pra quem empreende ou quer empreender em jornalismo.
Com a mediação de Laura Diniz (Jota), Federico Amigo (Tiempo Argentino), Paula Miraglia (Nexo) e Eduardo Pegurier (O Eco) conversaram sobre caminhos possíveis para conciliar jornalismo e gestão. Todos desempenham papéis de gestão dentro de suas organizações de mídia digital. Há trajetórias distintas e modos diferenciados de lidar com essa posição, mas há pontos de contato que apontam para uma direção comum.
A gestão não deve ser sacrificada em favor do editorial
Essa é uma conclusão que emerge não só do feito no festival, como também de trabalhos mais sistematizados como a pesquisa Ponto de Inflexão, da SembraMedia, com a qual colaborei em sua fase de finalização. Colocar todos os esforços no editorial e não alocar energia ou minimizar a importância da gestão é um erro. Cada um encontrou uma solução diferente dentro de sua organização, mas todos equacionaram o problema.
No Jota, foi necessário trazer um sócio com experiência em negócios para crescer. No Tiempo Argentino, foi preciso aprender na prática a lidar com finanças, questões administrativas e fazer jornalismo auto-gestionado, sem grandes empresários. O Nexo beneficiou-se da bagagem em gestão que Paula carregava de experiências anteriores.
Não há caminho certo para o dinheiro, mas há muitos caminhos
A geração de receita ainda é um desafio para organizações de mídia nativas digitais, dada a exaustão do modelo tradicional baseado em receita publicitária. As respostas para essa questão são múltiplas, conforme a natureza, a trajetória, o propósito e a audiência de cada meio. O Eco é financiado por fundações internacionais, num modelo de patrocínio. O Nexo vende assinaturas e desenvolve produtos editoriais. O Tiempo Argentino, inicialmente um jornal de propriedade de empresários, hoje é uma cooperativa de trabalhadores e cujos leitores pagantes têm status de sócios.
Transparência é a alma do negócio
Os veículos tradicionais sempre reivindicaram a transparência como um de seus principais valores, mas talvez nunca a tenham praticado da maneira como os nativos digitais a praticam. O Jota dá acesso aos jornalistas de sua equipe a todos os resultados financeiros do site, bem como o direito de discutir os rumos do negócio e o desenvolvimento de novos projetos. Na Argentina, além dos jornalistas, os leitores também são informados sobre o balanço do negócio.
O debate completo sobre jornalismo e gestão
A íntegra da conversa (que também abordou conceitos de independência, inovação e outros assuntos) pode ser vista abaixo. As demais mesas do Festival 3i também podem ser (re)vistas a qualquer momento no canal do festival no YouTube e também no Facebook.