Antes de colocar o Negócio de Jornalista no ar, elaborei uma pesquisa direcionada a jornalistas para saber sua percepção sobre a qualidade da formação recebida, a relação da mesma com a realidade do mercado e interesses profissionais. Responderam ao questionário estudantes e jornalistas formados de 11 estados das cinco regiões do Brasil.
A intenção da pesquisa era mais exploratória do que de diagnóstico. Era importante entender o que pensam os jornalistas sobre o assunto num momento em que as grades curriculares passam por mudanças, em função das novas diretrizes do curso de jornalismo, homologadas pelo Ministério da Educação (MEC) em 2013. Elas priorizam aulas mais práticas, a convergência tecnológica e a formação de profissionais autônomos e empreendedores. Enfim, um diálogo maior com a realidade do mercado. Também queria explorar o que pensam os jornalistas sobre o tema central deste projeto, o empreendedorismo.
Aos resultados.
Empreendedorismo, marketing, mídias sociais e startups em pauta
As referidas mudanças curriculares homologadas pelo MEC já fazem eco. Entre os estudantes, 34% afirmaram ter aprendido no curso de jornalismo algum conteúdo sobre mídias sociais, internet e marketing e 28% disseram ter tido aulas sobre empreendedorismo, negócios e criação de projetos jornalísticos. Entre os já formados, 19% declaram ter recebido formação em mídias sociais, marketing e internet (considerando-se apenas os que ingressaram na universidade após o ano 2000, década em que a internet e as redes sociais ganham força no Brasil). Desse mesmo grupo, 21% afirmaram ter tido aulas sobre empreendedorismo.
As mudanças no currículo e, mais ainda, na realidade do mercado, também refletem nos interesses profissionais dos jornalistas. 33% gostariam de ter um negócio próprio e 31% desejam ter uma experiência de trabalho em startups e agências de marketing. No entanto, as redações continuam sendo a área em que a maioria gostaria de ter uma oportunidade de atuação (37%). Há algumas variações nos interesses quando estudantes e formados são considerados separadamente.
Notícias velhas na formação de jornalista
A avaliação subjetiva que os entrevistados fizeram de sua formação repete o que muitos de nós, jornalistas, já observamos em algum momento nos corredores da faculdade ou em conversas com colegas de trabalho. Há muitos elogios para a formação teórica e humanística recebida na universidade, bem como para a qualificação dos professores. Por outro lado, há um entendimento de que essa qualificação não representa necessariamente conhecimento da realidade do mercado.
Há ressalvas também para a formação técnica recebida. Ela é percebida ou como insuficiente ou como focada em demasia na figura do jornalista como repórter. Conteúdo teórico e de técnicas de reportagem estiveram presentes no currículo acadêmico de mais de 80% dos entrevistados, tanto entre os estudantes quanto entre os jornalistas formados nas três últimas décadas. Disciplinas sobre assessoria de imprensa e jornalismo corporativo fizeram parte da formação de 60% de todos os grupos – formados e graduandos. Ao mesmo tempo, aqueles que se formaram em épocas mais recentes ou ainda estão na graduação reconhecem como é difícil para a academia acompanhar as mudanças rápidas e constantes na comunicação.
Uma tentativa de alinhar os cursos de jornalismo a essas mudanças, as diretrizes curriculares homologadas pelo MEC não estão sendo adotadas com a mesma velocidade do mercado – seja em razão da burocracia ou de restrições orçamentárias enfrentadas por instituições públicas e privadas, dado o momento econômico do país. Elas foram aprovadas em 2013 e deveriam ter sido implantadas até 2015. Dois anos após o fim desse prazo, o processo segue em curso em algumas universidades; em outras, ele ainda está por ser implantado.