Muito provavelmente como você, eu sou uma jornalista que tem sentido as mudanças profundas e ainda inconclusivas que afetam a nossa profissão. Com uma ideia na cabeça e a falta de perspectiva no emprego tradicional, eu criei, junto com outra amiga jornalista, Gracielle Fonseca, o Festivalando, um site especializado em festivais e viagens. Demorou aproximadamente dois anos para que eu entendesse que tinha em mãos um negócio. E quando percebi isso, notei que não não tinha uma pista sequer sobre qual caminho seguir. Fui ensinada a escrever, entrevistar, editar e só.
Se criar o Festivalando foi um recomeço, esse momento em que a ficha do negócio caiu foi um “re-recomeço”. Havia muito o que aprender, novos conceitos e técnicas para colocar em prática e uma mudança de mentalidade a ser trabalhada: empreender também é negócio de jornalista. Sim, negócio também de quem é “de humanas”, de quem (supostamente) não sabe lidar com números, de quem não pode deixar interesses comerciais contaminarem o trabalho. Felizmente, graças à minha vocação autodidata comecei a estudar o que eu já deveria saber desde o início. Meu interesse pelo empreendedorismo em jornalismo digital só cresceu ao longo desse processo, e minha dedicação foi sr aprofundando para leituras de pesquisas e pela busca por programas de aperfeiçoamento.
Foi assim que me candidatei e fui aprovada para o programa A Digital Path to Innovation and Entrepreneurship in Latin America, financiado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, dentro do programa Professional Fellows, e executado pelo International Center For Journalists. É o que os norte-americanos chamam de fellowship, um programa de aperfeiçoamento profissional. Passei dois meses nos Estados Unidos, me dividindo entre San Diego e Los Angeles.
Negócios do jornalismo
Em San Diego, fui alocada na redação do Voice of San Diego, um dos sites de notícias independentes mais bem respeitados dos Estados Unidos. A reputação se deve a um bem sucedido modelo de negócios baseado em doações de leitores e subsídios. Acompanhei o CEO, Scott Lewis, a direção de projetos especiais, de desenvolvimento de negócios e de engajamento para entender como o negócio deles se estrutura. Em Los Angeles, trabalhei na SembraMedia, organização de apoio a jornalistas empreendedores da América Latina e uma referência para este projeto. Trabalhei diretamente com a diretora Janine Warner na finalização do estudo Ponto de Inflexão, um retrato do empreendedorismo em jornalismo digital no Brasil, Argentina, Colômbia e México.
Também participei de workshops em Washington com profissionais de organizações e veículos, tradicionais e nativos digitais, que estão desenvolvendo soluções para a sobrevivência do jornalismo nesse novo e imprevisível cenário – Pro Publica, Washington Post, USA Today, The Atlantic, Tow-Knight Center For Entrepreneurial Journalism, dentre outros.
O que é Negócio de Jornalista
Negócio de Jornalista, o site, é o produto final de toda essa experiência. Tecnicamente, é o projeto derivado do fellowship, mas na essência é o resultado desse caminho que começou com uma mudança de percepção lá atrás. Compartilho de uma maneira minimamente estruturada o que aprendi nesse tempo todo. Muito daquilo que eu deveria saber desde o início, mas que por lacunas na formação, falta de preparo e de percepção, eu demorei muito tempo para aprender. Para quem vê na revolução digital mais uma oportunidade que uma crise para o jornalismo, este produto quer ajudar a mostrar, desde o primeiro momento, que empreender também é negócio de jornalista.