Imagine como é pular de um veículo em movimento em direção a outro que também se move. Como quem decide fazer a transição do jornalismo aos negócios e empreender com um projeto de mídia em meio às mudanças pelas quais o mercado jornalístico está passando.
Os desafios dessa transição foram um dos tópicos discutidos por jornalistas que criaram o seu próprio negócio durante webinar promovido pela IJNET – International Journalists Network.
A conversa teve como tema principal a construção de modelos de negócios sustentáveis para o jornalismo. Esta é uma questão ainda em aberto, com poucas conclusões e muitas possibilidades. Até que em dado momento uma das participantes mencionou que uma etapa importante para se obter sucesso nessa tarefa é mudar o chip. Ou seja, é preciso parar de pensar exclusivamente como jornalista e incorporar a lógica dos negócios.
A (nada fácil) transição do jornalismo aos negócios
É um processo que pode gerar resistência enorme a quem vem programado com o chip de jornalista, afinal aprendemos que editorial e comercial devem (ou deveriam) estar tão separados como devem (ou deveriam estar) igreja e Estado.
Mas, de repente, você está em uma nova posição que te coloca no encontro das duas fronteiras e não há como levar um potencial negócio adiante sem essa troca de chip, que não necessariamente significa borrar os limites das fronteiras, mas coordená-los.
Quanto mais demorada essa troca for, pior. Eu só percebi que precisava trocar o chip um pouco tarde no processo de desenvolvimento do Festivalando, site do qual sou co-fundadora, às custas de muita energia e tempo investidos sem retorno.
Perguntei aos participantes do webinar como havia sido a troca de chip de cada um deles e, se serve de consolo, vi que não fui a única a fazer a transição um pouco tarde ou com certa dificuldade.
Mais importante que isso, porém, foi ver que as respostas convergiram todas para uma mesma direção: é preciso acima de tudo aprender, estudar. Também faz parte do processo não oferecer resistência ao mundo dos negócios e agir, colocar ideias em prática.
Eis as respostas que cada um me deu:
Fabiola Torres, cofundadora e editora do site peruano OjoPúblico
“Nós (ela e seus colegas jornalistas cofundadores do site) trabalhávamos antes no jornal mais importante do país. No início (do OjoPúblico), só pensávamos nas reportagens, nas fontes. Não nos importávamos com negócios, com impacto. Hoje entendemos que é importante planejar, ter estratégias, desenvolver projetos.
A minha recomendação para fazer a troca de chip é não ter medo de ter que aprender algo novo do zero. Inevitavelmente, este é um ambiente no qual estamos sempre aprendendo. Também não espere o seu produto ficar perfeito. Apenas faça, e faça logo.”
Larry Ryckman, editor do site norte-americano The Colorado Sun
“Faça o que tem que ser feito. Aprenda os objetivos do negócio, entenda como uma empresa funciona, lance mão do marketing nas redes sociais. É bom quando se aprende coisas novas e pra mim foi uma parte divertida do processo.”
Alan Soon, cofundador do site The Splice Newsroom, com atuação em toda Ásia
“Acredito que estamos na era de ouro da mídia, apesar de tudo. Temos nas nossas mãos as condições para aprender como as pessoas se informam, como elas usam tecnologia. O ambiente também é favorável para aprender sobre negócios, startups, pois temos muito mais ferramentas e serviços à nossas disposição. Dez anos atrás, eu não teria conseguido criar um negócio como fiz hoje, menos provável ainda que conseguisse isso 15 anos atrás.
As coisas que você precisa aprender podem ser encontradas no Google, tem conteúdos incríveis sobre empreendedorismo, sobre como construir comunidades. Eu encorajo todo mundo que quer empreender a explorar as fontes incríveis que existem por aí.”
O Negócio.Jor indica uma série de conteúdos educativos, a maioria gratuita e em português, para jornalistas que querem aprender mais sobre negócios digitais.