Os acertos do jornalista que quer empreender com um projeto digital

empreender com um projeto digital

O último post do blog falava dos erros cometidos por jornalistas que apostam na criação de um veículo digital, todos eles listados por James Breiner, fundador do centro de jornalismo digital da Universidade de Guadalajara e consultor de mídia digital. Onde há erro, há também acerto e Brainer falou deles na mesma ocasião, durante a convenção anual da Sociedade Espanhola de Jornalismo, ocorrida em maio, em Málaga. Mais precisamente, ele listou as oito boas práticas dos jornalistas que obtêm sucesso ao empreender com um projeto digital.

Assim como no post anterior, reproduzo a lista com alguns comentários pessoais, principalmente tendo em vista minha experiência com o Festivalando, que criei junto com a minha amiga do curso de Comunicação Gracielle Fonseca.

1. Criar uma comunidade e conteúdos de qualidade

Criar uma comunidade implica duas coisas, uma óbvia e outra nem tanto. A implicação óbvia é que criar um meio digital significa, dentre outras coisas, agregar um grupo de pessoas com interesse comum em torno dele. A menos óbvia é que, uma vez criada, essa comunidade precisa ser servida – e não apenas informada com o despejo de conteúdo atrás de conteúdo.

Indo um pouco mais longe, se criar uma comunidade (ou seja, agregar um grupo de pessoas com um interesse comum) está na base das boas práticas de um negócio de jornalismo digital, é fundamental pensar em nichos e deixar pra trás a lógica de massa.

Os números astronômicos de audiência podem ser sedutores, mas são para poucos. Ao mesmo tempo, quando se fala com todo mundo, não se fala com ninguém. É como ter um alvo na frente e não saber para onde jogar o dardo. Por outro lado, um nicho indica o ponto exato onde mirar – a sua comunidade, amplificando as chances de acerto.

Quanto a servir ao invés de simplesmente informar, isso requer mudar a nossa postura diante de quem nos lê. É deixar um pouco pra trás a noção de “eu sei muito bem definir o que é notícia e o que não é” e perguntar-se mais “do que será que a minha comunidade está precisando saber neste momento?”. É uma postura de mais escuta e mais humildade.

Por sua vez, para saber das necessidades da sua comunidade, é preciso conhecimento profundo da mesma, por meio de pesquisas, análises quantitativas e qualitativas de métricas diversas. O conteúdo de qualidade, penso eu, é uma consequência natural dessa mudança de postura na relação de quem produz a informação diante de quem irá recebê-la.

2. Ter múltiplas fontes de receita

Já não sei quantas vezes isso deve ter sido dito no Negócio.Jor, em pormenores ou por alto. Diversificar as fontes de receita em um negócio digital é uma das poucas certezas nesse mercado tão imprevisível, e basicamente uma regra exaustivamente repetidas por todos os especialistas no assunto.

No fim das contas, é aquela velha metáfora sobre colocar todos os ovos numa mesma cesta e os riscos que isso pode trazer.

3. Ter paixão pelo projeto

Este item pode parecer um clichê e tem muita gente que já está criando ranço desse discurso “trabalhe com o que você ama”. Mas é um elemento essencial no processo todo.

Empreender é uma decisão que não te traz garantia alguma, requer abrir mão de alguma segurança, pode gerar prejuízo. Enfim, é algo que pode dar muito errado. Ou demorar para dar realmente certo – e isso às custas de estudo, conhecimento e aplicação prática acertada de métodos e rotinas.

Quais as chances de você encarar tudo isso fazendo algo que não te desperta paixão alguma? Pois é.

4. Inovar constantemente

Inovar pode ser criar algo novo, de fato – uma linguagem, uma abordagem, uma ferramenta, um processo, etc. Pode ser também fazer de um modo diferente algo que sempre era feito de uma única maneira.

Considero ambos os casos difíceis e nem sempre pode ser fácil inovar. Mas é muito fácil, ao menos, questionar a maneira como você está fazendo as coisas em busca de outras possibilidades e também de manter-se atualizada sobre o que há de inovação por aí para não ficar defasada.

5. Capacitar-se na trinca tecnologia, marketing e jornalismo

Eu apenas substituiria o marketing por negócios, pois abarca um conjunto mais amplo de conhecimentos necessários para conduzir um projeto digital, mas manteria igualmente a ênfase em buscar conhecimento nestas áreas.

O conhecimento de tecnologia vai desde conhecimentos mais técnicos, como um pouco de linguagem de programação e o funcionamento básico de um site, até detalhes por trás da lógica por trás das plataformas de publicação, dos mecanismos de busca, dos algoritmos.

Entender de negócios, do ponto de vista de um jornalista (o que significa basicamente partir do zero), é entender de planejamento estratégico, de finanças, gestão, desenvolvimento de receita, formação de equipes (para quem planeja um negócio maior), balanços, marketing. Mais ainda, é superar a mentalidade boba de que jornalista não serve para ganhar dinheiro ou não sabe fazer conta.

E, sim, a gente também tem que continuar aprendendo sobre jornalismo. A revolução digital segue bagunçando tudo, inclusive o jornalismo. Apesar de alguns princípios não mudarem, muita coisa já não é mais a mesma e vai continuar mudando.

6. Interagir com a audiência

Lembre que você está servindo uma comunidade (item 1) e não mais falando para uma massa identificada apenas por elementos demográficos do tipo sexo/idade/profissão/classe. Você está se direcionando a pessoas e, portanto, precisa tratá-las como tal. É preciso comunicar-se, ouvir, responder, relacionar-se, criar conexões.

7. Diferenciar-se da concorrência

É interessante notar que não se trata de tentar ser melhor que a concorrência, ou estar à frente e superá-la. A palavra é diferenciar-se. A diferenciação ajuda a caracterizar, a separar uma coisa da outra, a tornar mais clara a percepção sobre algo, a notabilizar.

No meio digital, onde há profusão de informação e uma disputa ferrenha pela atenção das pessoas que a consomem – com os algoritmos dificultando tudo, diferenciar-se é uma estratégia crucial.

8. Ter uma voz única para cada rede social

Cada rede social tem suas peculiaridades, sua própria linguagem e seu perfil de público. Por isso, cada uma exige um tipo de abordagem. Acrescento que não é só no que diz respeito à voz, mas também à finalidade dentro da estratégia como um todo.

Algumas podem se prestar mais ao fortalecimento da marca, outras à comunicação direta com o público, outras para atrair mais audiência. Definir qual papel cabe a cada rede vai depender dos objetivos e características de cada projeto de jornalismo. O importante é ter esse discernimento desde o início. Eu demorei a entender isso e a conta a ser paga depois é alta.

Veja mais reflexões sobre jornalismo e empreendedorismo no blog do Negócio.Jor