Os erros do jornalista que quer empreender com um negócio digital

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Há pelo menos seis erros que um jornalista pode cometer quando pensa em empreender com um negócio digital. A lista é de James Breiner, professor da Universidade de Guadalajara e especialista no assunto, cujo blog, News Entrepreneurs, já foi recomendado aqui como fonte de informação sobre empreendedorismo no jornalismo digital.

Ele listou esses erros em palestra feita na convenção anual da Sociedade Espanhola de Jornalismo, ocorrida em maio, em Málaga. A palestra teve um foco mais amplo, explorando as tendências do jornalismo digital, e merece ser destrinchada aos poucos.

Vale começar destacando os erros, pois eles são o que levam ao fracasso, como assinalou Breiner, mas não só. São erros que, por experiência própria, posso dizer que também provocam perda de tempo, energia e desgaste.

Apresento a seguir essas falhas apontadas por ele, retiradas do material que ele compartilhou sobre a palestra, e acrescento alguns comentários pessoais a respeito.

1. Não ter um modelo de financiamento

Nos quatro anos de Festivalando, o blog que criei junto com a minha amiga do curso de Comunicação Gracielle Fonseca, aprendi com muito custo que o conteúdo não é um imã para atrair dinheiro, ele não basta em si mesmo.

É preciso saber identificar as melhores fontes de receita para o projeto que você está criando, planejar, testar e, principalmente, dedicar parte da sua rotina de trabalho a desenvolver as estratégias que vão trazer dinheiro.

2. Depender da publicidade

Por que repetir o erro dos jornais impressos, que confiaram tanto na publicidade e agora estão amargando os reflexos dessa dependência? A palavra-chave para gerar dinheiro com um projeto de jornalismo digital é diversificação de receitas e a publicidade típica (no formato de banner) tem cada vez menos relevância nesse combinado.

Ela existe, sim, no meio digital, assim como no meio impresso. Mas é um outro ambiente, outras regras, diferentes escalas, e tudo isso impacta na maneira como ela pode ser ou não rentável para veículos digitais.

3. Considerar “marketing” um palavrão

Eu adorei este item. Até um tempo atrás, nos primórdios do Festivalando, eu era essa pessoa que tinha ojeriza ao termo marketing. O entendimento de senso comum que temos de marketing parece se chocar completamente com valores básicos do jornalismo, como isenção e transparência. Fora o entendimento puramente comercial que associamos ao termo – e somos ensinados a fazer sempre a separação sagrada entre editorial e comercial.

Mas há duas verdades inescapáveis nisso. A primeira é que marketing não é exatamente isso. Antes de tudo, ele é um conjunto de estratégias usadas para determinar quais tipos de serviços ou produtos serão oferecidos a um determinado grupo de pessoas com base no entendimento que se tem do público em questão. E não tem nada de errado, de anti-ético ou de desonesto em usar o marketing, pois depende de você o uso de estratégias que sejam transparentes, éticas e honestas.

A segunda é que não tem como querer criar um negócio sem incluir o marketing no processo. Assim como o dinheiro não é gerado espontaneamente (tópico 1), o seu público-alvo não vai ser alcançado por milagre. É o marketing que pode te ajudar a entender como acertar esse alvo.

4. Reproduzir de maneira quase idêntica conteúdos em formatos diversos (texto, foto, vídeo e áudio)

Aqui vale a mesma lógica do tópico 2. Transpor a lógica de um meio para outro é ignorar todas as peculiaridades inerentes a cada um deles. O digital tem todas as suas próprias possibilidades em termos de formato, apresentação e circulação de informação e é preciso levar isso em conta na hora de produzir conteúdo.

Eu ainda completaria esse item acrescentando um erro muito similar, que é o de pensar que é possível reproduzir o mesmo conteúdo em todas as redes sociais, ou de pensar as redes como uma simples extensão do conteúdo informacional produzido em texto. Cada rede exige uma forma de comunicação específica, conforme as suas particularidades. Quanto mais cedo você perceber isso, melhor.

5. Não aproveitar recursos de links, multimídia e interatividade

O meio digital é por natureza interativo, multimídia e organizado em rede, cujas conexões se realizam por meio de links. Não lançar mão desses recursos é subaproveitar a potencialidade do meio.

6. Não conhecer a audiência a fundo

Considero o entendimento da audiência uma das maiores epifanias na construção do Festivalando. Até antes dele, o leitor era tido por mim como algo dado, que sempre esteve lá, e sobre o qual eu não precisava nada saber. E, realmente, eu nunca soube nem me preocupei em saber quais eram as características das pessoas para quem eu escrevia no jornal, quais eram seus interesses e necessidades.

No início do blog eu ainda conservava essa percepção, até entender que se eu não mudasse o meu posicionamento, não seria capaz de servir a minha audiência em potencial do jeito que ela necessitava.

Fazer pesquisas de opinião periodicamente, analisar de maneira qualitativa as diferentes métricas de audiência, extrair insights das reações nas redes sociais, dos comentários no site, dos e-mails enviados. Tudo isso ajuda na criação de um produto e de uma linguagem mais certeira, além de te aproximar de quem deve ser o centro de tudo, que são os seus leitores.

Veja também os oito acertos de jornalistas que colocam em prática um projeto digital bem-sucedido.